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11 - 31 JUL

TEXTO SOBRE A EXPOSIÇÃO

A exposição intitulada “O Mergulho” de Pedro Gomes é composta por uma seleção de oito desenhos que o artista tem vindo a desenvolver nos últimos anos. Através da diversidade do conjunto de desenhos apresentados, considerando as cores - amarelo, verde, rosa, branco e preto - e os elementos representados - edifícios, estruturas aquáticas, palmeiras e espaços expositivos - é possível mergulhar nas possibilidades artísticas realizadas a fim de promover uma visão mais profunda sobre a multiplicidade de ecrãs que a realidade permite a cada momento da sua visualização. Neste sentido, tanto as cores como os elementos tendem a relacionar os objetos do quotidiano com uma superfície pictórica que ocupa quase a totalidade da sala de exposição. Os desenhos, apresentados como se de uma linha do horizonte se tratasse, podem indicar uma narrativa linear mas, simultaneamente, aleatória e inebriante, tentando encetar uma discussão alargada sobre os domínios da pintura e do desenho que os constroem.

 

No seu conjunto, os oito desenhos revelam na sua diversidade a característica que os unifica. Realizados em diferentes momentos dos últimos 4 anos, os desenhos carregam consigo, não só, aspetos que o artista estaria a desenvolver para as exposições que iria realizar mas, também, carregam certas características estranhas que os colocaram à margem dessa mesma série. Para clarificar com mais acuidade é necessário referir que o artista trabalha por séries entendidas como uma exploração do mesmo tema ou técnica e que as diferenças entre séries são muito subtis e as alterações entre elas muito ligeiras. Ora, o que vemos aqui nesta exposição são desenhos que nunca foram mostrados anteriormente e que, de algum modo, saíram fora da classificação desta ou daquela série. Será talvez este desvio que permite mergulhar por possibilidades artísticas que não foram previamente projetadas, nomeadamente: a arquitetura modernista sobre um fundo cor de rosa; o tronco da palmeira que ocupa todo o espaço de desenho; a sobreposição de espaços museográficos; a linha de diversas cores de um desenho com molduras penduradas; uma estrutura que não se decifra a sua função; o desenho de um espaço de exposição de escultura; o uso da cor verde florescente; e um escorrega de água que serpenteia a folha de papel. De facto, estas opções técnicas, temáticas, formais e conceptuais não assentam no que seria expetável, ou seja, não se coadunam no rumo que uma determinada série de desenhos tomaria. Por um lado, este desajustamento é, por si só, uma forma de revelar novas visões sobre o quotidiano e novas possibilidades artísticas, mesmo que experimentais e, até, inconsequentes. Por outro lado, para além de testar novos aspetos, este desvio permite olhar atentamente para as propostas artísticas realizadas e apresentadas publicamente e questionar os seus modos e as suas características. Ao indagar as premissas que usualmente acompanham o trabalho que o artista tem vindo a desenvolver no campo do desenho, através de corpos estranhos introduzidos, é possível aprofundar os seus métodos e pensamentos. “O Mergulho” é a rara possibilidade de imergir no espaço privado de criação a que se chama ateliê. Este espaço de experimentação e de aprendizagem por tentativa e erro é onde se permite que possam insurgir novos modos de pensar o desenho e alargar a sua possibilidade de pintura.

 

Hugo Dinis

Julho 2020

CURRICULUM BREVE

PEDRO GOMES (1972, Moçambique) vive e trabalha em Lisboa. MFA (1997/1998), Chelsea College of Art, Londres e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Curso Avançado de Artes Plásticas (1991/96), Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual, Lisboa.

 

Realizou exposições individuais desde 2001, tais como: Encontro às Cegas (2020), Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa; A Ótica do Utilizador (2019), Appleton Square, Lisboa; Urbe (2018), Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva, Lisboa; 16 de Setembro (2017), Galeria Presença, Porto; Campo Grande (2011), Pavilhão Branco - Museu da Cidade, Lisboa; TEC (2008), Museu da Electricidade, Lisboa; From Combat to Leisure (2008), Museu de Arte Contemporânea de Elas; e Ter (2005), Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa e Museu Grão Vasco, Viseu.

 

Desde 1995, participou em inúmeras exposições colectivas, das quais se destacam das mais recentes: A guerra como modo de ver: obras de Colecção António Cachola (2019), MACE - Museu de Arte Contemporânea de Elvas; Germinal. O núcleo Cabrita Reis na Colecção de Arte da Fundação EDP (2018) Galeria Municipal do Porto e MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, Lisboa.

 

A sua obra está presente em diversas colecções públicas, nomeadamente: Museu Calouste Gulbenkian - Colecção Moderna, Lisboa; Colecção António Cachola; Colecção de Arte Fundação EDP, Lisboa; Fundação PLMJ; Colecção Manuel de Brito, Lisboa, Colecção Norlinda e José Lima, São João da Madeira.

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