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1 - 14 AGO

TEXTO SOBRE A EXPOSIÇÃO

 

Os objetos reais compreendem em si mesmos três dimensões, esta é uma lei da geometria e seus contornos podem ser medidos com instrumentos físicos adequados. Quando se trata de objetos artísticos, estas definições são postas em xeque. Pois, estes carecem de ferramentas visuais que nos auxiliem a compreender seus sentidos implícitos. Tudo aquilo que não está dado na materialidade do próprio trabalho, está dentro dele: seus símbolos, significados, narrativas, construções.

 

Em Estruturas Improváveis, Cristina Lapo apresenta uma série de trabalhos em que utiliza a grade geométrica de Piet Mondrian – como um meio de estruturar o espaço pictórico; o vermelho – como um elemento simbólico e expressivo; e, o espaço real – como uma área de jogo onde obra e observador forjam um confronto –, desdobrando uma pesquisa sobre os elementos visuais e sua relação com a construção dos espaços. Assim, a artista apresenta seu mais novo conjunto de trabalhos onde questiona a exiguidade das geometrias artísticas, sugerindo que as formas impalpáveis se construiriam na dualidade posta entre as imagens e a nossa percepção. Ou melhor, no encontro de nossos olhares com as medidas improváveis de uma geometria sensível.

 

Em seu meticuloso processo de ateliê, Cristina Lapo produz numerosas grades e as posiciona de modos sobrepostos, criando padrões geométricos não funcionais. Em seguida, recorta-as e recomeça todo trabalho, formando uma nova trama sem que se possa perceber o ponto de partida. Cria uma sensação ora de profundidade, ora de planificação da imagem ao transitar pelas referências construtivas – na aplicação da forma –, e do Neoconcretismo – pelo entendimento de estrutura e cor. Com esta ação reordena o espaço projetivo desmontando a estrutura tradicional e confere uma visão contemporânea às suas experiências.

 

Por sua vez, o vermelho confere ainda mais sentido para os trabalhos. Apresentado em nuances, o vermelho atua como expressão no espaço da obra. Ele alarga e aquece as formas, atrai e conduz o olhar para o desenho que se realiza na superfície da tela. O traço vermelho, como uma incisão na pele da obra, expõe uma carnação viva que emerge das Estruturas Improváveis dessa geometria. E se ao longo da História da Arte o vermelho foi utilizado com muita cautela, destinando-se aos lugares que se desejava destacar nas imagens, aqui ele é libertado para ocupar cada linha, ponto ou duração de traço.

 

Ao atuar como uma geômetra da cor, a artista busca insistentemente uma justa medida para as suas formas e grades, que sobrepostas criam camadas e escavam um fundo ilusório, onde não há vestígio do tempo. Nestas obras, o tempo não figura como um elemento do trabalho, mas como uma realidade na duração do encontro de quem as observa. E neste espaço temporal, as grandes áreas vermelhas nos lembram que a superfície está sempre imóvel no presente, trazendo-nos para o agora onde o tempo se tece. Assim, nesta construção de uma geometria inexata, composta por Estruturas Improváveis que funcionam em seu arranjo visual, Cristina Lapo nos propõe uma experiência, fazendo-nos perceber que da inexatidão, compreendidas na clausura do tempo e no espaço, também podem nascer formas e ações concretas.

 

Shannon Botelho 2020

CURRICULUM BREVE

Cristina Lapo é uma artista luso-brasileira que vive e trabalha no Brasil e Portugal. Estudou no Kent Institute of Art & Design (2000-2001) e é Bacharel com honra em Comunicação Visual Ilustração pela University of Central England (2001-2004), ambas no Reino Unido. Pós-graduada em Belas Artes pelo San Francisco Art Institute (2009-2010), nos Estados Unidos, e Mestre em Belas Artes pela mesma instituição (2010-2012). Lapo já expôs em diversos espaços no Brasil, Estados Unidos e Portugal.

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